As mulheres são a pauta especial do mês de março. Mundialmente conhecido pelas homenagens destinadas a elas, o mês traz à tona diversas abordagens sobre o dia a dia, dificuldades e conquistas desse público. Ingressando na escola tardiamente e com formação voltada para os cuidados com o lar e a família, quando o tema é a formação educacional, hoje, a presença feminina é marcante em todos os níveis.
O Censo da Educação Superior de 2016 apontou que as mulheres representavam 57,2% dos estudantes matriculados em cursos de graduação. Já na docência, segundo o mesmo levantamento, elas são 45,5%. Entre os professores da educação básica, elas são maioria: representam cerca de 80%, segundo Censo Escolar 2018.
Mesmo com o crescente número citado acima, elas continuam lutando para quebrar tabus, ampliando os espaços no quesito educação para todos. Confira um pouco dessa história que marca a trajetória da formação educacional das mulheres.
Onde tudo começou
A primeira Escola Normal do país foi criada em 1835, na cidade de Niterói. No entanto, mulheres não puderam ser matriculadas. No Rio de Janeiro, a educação feminina foi bastante incentivada e contou com a dedicação de religiosas de diversos grupos. Em 1854, por exemplo, começou a funcionar o Colégio Imaculada Conceição da Companhia das Filhas de Caridade de São Vicente de Paula. O local era voltado apenas para a educação de meninas, todas da elite carioca, e totalmente comprometido com os valores e padrões da Igreja Católica Romana.
A partir de 1870, começaram a ser fundadas as primeiras escolas protestantes, principalmente metodistas e presbiterianas. Elas quebraram o monopólio religioso do catolicismo e, pela primeira vez no Brasil, reuniram alunos de ambos os sexos numa mesma classe.
Foi nessa mesma época que surgiram as escolas públicas mistas, e as professoras receberam autorização para lecionar para meninos. Com a entrada delas no comando das salas de aula, o magistério feminino ganhou força. As moças foram liberadas para ingressar nos cursos normais, e o trabalho feminino começou a aparecer.
Apenas 24 anos depois de sua fundação, em 1881, foram inauguradas as classes profissionalizantes para as mulheres no Liceu de Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro. Os cursos, reforçavam os papéis tradicionalmente vinculados às mulheres. Em 1897, era criado, também no Rio, o Instituto Profissional Feminino, que após 15 anos acrescentava Orsina da Fonseca ao seu nome (em homenagem à esposa do presidente Hermes da Fonseca). Com a Lei Nº 1997, de setembro de 1918, foi autorizada a separação entre internato e externato no Instituto, que também foi transferido para novas instalações no ano seguinte, passando a chamar-se Escola Profissional Paulo de Frontin.
Lá, eram oferecidos o Curso Comercial, com as disciplinas de estenografia (taquigrafia), datilografia, contabilidade e línguas; e o Curso Profissional, com as oficinas de chapéus, bordados, costura, flores, desenho e modelagem. Durante décadas, essa instituição foi uma das principais referências no ensino profissionalizante para moças fluminenses.
A luta pelas universidades também foi acirrada. Somente em 1879, o governo imperial permitiu, condicionalmente, a entrada feminina nas faculdades. Para isso, as candidatas solteiras tinham que apresentar licença de seus pais; já as casadas, o consentimento por escrito de seus maridos.
Os preciosos anos 90
Foi somente na década de 1990 que as mulheres brasileiras ultrapassaram os homens em nível de escolarização. A proporção de pessoas analfabetas já era significativamente menor entre as mulheres do que entre os homens em todos os grupos com até 39 anos de idade. Segundo um levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do ano 2000, nesse período, as mulheres também superaram os homens em número médio de anos de estudos e, nas salas de aula, reinaram absolutas: 85% dos 1,6 milhão de professores da educação básica em todo o país são do sexo feminino.
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Mesmo com o diploma, disparidade salarial
Tomando por base a população de 25 anos de idade, ou mais, com ensino superior completo, em 2016 as mulheres já eram maioria. Elas somaram 23,5%, contra 20,7% dos homens. Quando se comparam os dados com homens e mulheres de cor preta ou parda, os percentuais são bastante inferiores: 7% entre os homens e 10,4% entre mulheres.
Em 2018, o Estudo de Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicado pela Agência Brasil, mostrou que mesmo em número maior entre as pessoas com ensino superior completo, as mulheres ainda enfrentam desigualdade no mercado de trabalho em relação aos homens. Essa disparidade se manifesta em outras áreas, além do item educação.
Em relação ao rendimento habitual médio mensal de todos os trabalhos e razão de rendimentos, por sexo, entre 2012 e 2016, as mulheres ganham, em média, 75% do que os homens ganham. Isso significa que as mulheres têm rendimento habitual médio mensal de todos os trabalhos no valor de R$ 1.764, enquanto os homens, R$ 2.306.
Com o diploma na mão
Após conquistarem o acesso aos cursos superiores, as mulheres seguiram progredindo, tornando-se mestras e doutoras em diferentes áreas do saber. Durante a segunda metade do século XX, a presença delas cresceu expressivamente na educação, tanto como força de trabalho, quanto na participação em todos os níveis de formação.
No entanto, as portas não estão todas igualmente abertas. Enquanto no curso de Pedagogia 93,7% dos estudantes são mulheres, na graduação em Sistemas de Informação elas representam apenas 16,4% dos discentes. Temos também exemplos de cursos com um mais equilíbrio, como Geografia, com 53,6% para eles, e Engenharia Química, com 53,6% para elas. Misturando, a troca de experiências fica mais rica, não é mesmo?
A única área de docência na qual as mulheres não são maioria é o ensino superior, apesar da variação entre os cursos ser semelhante no caso dos estudantes. São quase 35 mil homens a mais lecionando nos cursos de graduação, compatível com a maior presença deles nos cursos de doutorado. Aos poucos essa situação vai se revertendo, já que elas tomaram a dianteira nos mestrados.
Outro destaque fica por conta da vocação para a liderança, que combinam com a maior presença delas também no curso de Administração, somando 56,5%.
Vale lembrar que não é só ensinando diretamente que elas deixam sua marca na educação. Encontramos mulheres na diretoria, na coordenação, na secretaria e verificando os nutrientes da merenda servidas aos pequenos e grandes alunos.
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